CASOS DE FAMÍLIA: ARQUIVOS RICHTHOFEN E ARQUIVOS NARDONI – ILANA CASOY (RESENHA)

“É de leitura obrigatória não apenas para os profissionais atuantes na área penal ou para os estudantes de Direito que pensam em fazê-lo futuramente, mas para todos os que quiserem penetrar nas entranhas de um crime perverso e nos fatos circundantes que vão da cobiça ao relacionamento familiar. P.16”.

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“O crime foi cruel e covarde. P.15”.

Que eu sou extremamente fã de Ilana Casoy todos já sabem! Essa autora me inspira, me ensina e a cada livro me deixa mais fascinada e me torna mais e mais uma admiradora! Desde que li Serial Killers – Made In Brasil decidi que lerei tudo o que Ilana escrever, até biscoitinhos da sorte, se for o caso. Em seguida li Serial Killers – Louco ou Cruel e hoje venho falar de Casos de Família: Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni!

“Como em um filme, as vítimas intuíram seus destinos, acordaram e abriram os olhos simultaneamente. Talvez tenham ouvido a voz da filha ou adivinhado o que estava por vir, mas não houve tempo suficiente para lutarem pelas suas vidas. P.25”.

Esse livro mexe com nossos ânimos e emoções por falar de dois casos que ainda estão muito frescos em nossa memória. É muito comum que eu comente com alguém sobre o Chico Picadinho ou sobre Albert Fish e a pessoa me olhe com uma cara de interrogação e responda “Quem???”, mas creio que não há uma pessoa sequer nesse país chamado Brasil que não se lembre com bastante clareza sobre o caso Von Richthofen e o caso Nardoni.

“Antes de continuar os trabalhos de reprodução simulada, encostou-se na parede, sentou -se no chão e teve uma crise de choro. Não parava de repetir que o policial que estava fazendo o papel de Manfred era a cara dele, que Manfred estava ali. P.128”.

Como esquecer as notícias sobre uma adolescente que planejou a morte dos próprios pais de forma cruel com seu namorado e “cunhado”? Como se esquecer do pai e da madrasta que jogaram uma menina de cinco anos pela janela?

“(…) desde o início aquele “latrocínio” parecia uma encenação… P. 48″

Como estudante de direito (e até mesmo antes de o ser) me interesso demais por esses assuntos, leio, me informo, pesquiso, e recomendo para todos, mesmo que não estejam nem perto do uma carreira jurídica, que leiam esse livro que é riquíssimo em informações.

A primeira metade narra o caso Von Richthofen, detalhe por detalhe, desde os preparativos para a noite do duplo homicídio até a sentença que condenou os três acusados: Susane Von Richthofen e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos.

“Quem sabe Marísia, a mãe, em sua agonia final, quando recebia as últimas porretadas, não pensou: será que não vão pegar minha filha? E, no grito final, ela ainda foi asfixiada sem dó nem piedade. P.15″.

Há uma riqueza de detalhes que te coloca na cena do crime, na delegacia durante os depoimentos, no fórum durante o julgamento, de forma que nada passa sem que percebamos. Conhecemos um pouco da família, sua rotina, a preocupação dos pais com a educação dos filhos, que falavam três idiomas, praticavam esportes, tinham o mundo ao alcance de suas mãos, mas que mesmo assim saiam escondido, mentiam, usavam drogas…

“Subiram para a área dos quartos, onde a filha das vítimas, fumando novamente, apontou para a cama de casal e disse: “Bom, aqui morreram meus pais” P.74″.

Tomamos conhecimento do planejamento do crime, como tudo foi muito mal arquitetado para simular um latrocínio, o comportamento bizarramente cínico dos assassinos após o crime, (como esquecer a festinha na piscina que eles deram na manhã após o enterro dos pais?), chocando os policiais e investigadores do caso.

“Os policiais que por ali passavam e viam a menina com as pernas sobre o colo do namorado , cochichando e sorrindo , espantavam-se em saber que se tratava da adolescente que acabara de saber que os pais tinham sido assassinados de forma brutal. P.57”.

Obviamente por se tratar de casos reais, e não mera ficção irei me abster de compartilhar certas impressões que eu tive ao ler e que ainda hoje me pego pensando, porém não apenas o comportamento dos três assassinos, mas principalmente o do irmão caçula de Suzane, Andreas Von Richthofen que à época tinha seus quinze anos me surpreendeu, até porque é de se esperar que os três assassinos fossem frios e indiferentes sobre toda a situação, mas para um filho que perdeu a mãe, o pai e posteriormente a irmã e o “cunhado” que era seu melhor amigo é um pouco chocante tomar conhecimento do comportamento que ele apresentou e das impressões que os investigadores tiveram sobre ele.

“Robson perguntou a Andreas:
– Você quer um lanche do McDonald’s?
– Quero só sorvete.
– Tua mãe acabou de morrer e você quer tomar sorvete?
– É, só um sorvete. P.56″

Mais para o final da primeira parte temos os detalhes da reconstituição e isso serve para elucidar com muito clareza sobre o passo a passo e a participação que cada um dos três teve no crime, quem fez o que e como colocaram em prática os planos previamente definidos.

“Abraçou de novo o perito e, chorado, repetia “O que foi que eu fiz, o que foi que eu fiz… P.129”

Essa primeira parte do livro foi com certeza a que eu mais gostei! Não há nada que não seja mencionado, claro que as confissões dos réus e a reconstituição que eles participaram ajudaram muito, mas o fato de contarem a história em ordem cronológica desde o inicio até o final do julgamento foi sem dúvidas a cereja do bolo.

“Respingos vermelhos manchavam o teto sempre que a arma era novamente erguida. O som das pancadas preenchia o enorme silêncio que envolvia a casa naquele momento. P.26”.

AirBrush_20170628101955A segunda metade do livro relata o também inesquecível caso Nardoni.

Aqui é tudo bem diferente da primeira parte, não houve confissão dos acusados, pelo contrário os hoje condenados ainda batem o pé e afirmam com convicção que são 100% inocentes. Também não participaram da reconstituição, o que convenhamos seria a oportunidade de provarem sua alegada inocência, e também não há um relato detalhado do que aconteceu naquele dia ou o que houve dentro do apartamento, vez que não houve confissão.

No caso Nardoni o relato já começa no julgamento. Não há prévia, não há uma “história” anterior. Vemos de cara a defesa, que cá pra nós me irritou MUITO com certas artimanhas, e o promotor de justiça Dr. Francisco J. Taddei Cembranelli que foi literalmente meu muso inspirador quando decidi cursar Direito, então não seria uma surpresa falar aqui que chorei assim que abri o livro lendo o prefácio que foi escrito por ele e que a cada página me peguei babando de admiração por seu profissionalismo.

Durante o relato do tribunal somos bombardeados com informações técnicas de todos os lados! A acusação não poupou todos os tipos de peritos mais do que renomados e capacitados para deporem e explicarem tim-tim por tim-tim todas as provas coletadas, os testes aplicados nas amostras de sangue, a pericia realizada com precisão e como tudo se desenrolou até que chegassem a um resultado em que não permitia dúvidas sobre a culpa dos, até então, acusados.

“Naquela época ninguém imaginou, nem mesmo eu, que o crime se transformaria no mais emblemático caso da história jurídica do Brasil. No fim das contas, era fácil entender o porquê. P.282”

Ilana não deixou de mencionar os detalhes que percebeu durante os dias de julgamento, como a reação dos acusados em determinados momentos, o comportamento do pai de Alexandre na plateia, a insatisfação dos jornalistas com o sistema de rodízio para cobrirem o caso, de modo que nos sentimos lá no plenário, vendo e ouvindo cada parte desse julgamento.

De forma geral o livro é muito bem detalhado, existem fotos das reconstituições, desenhos do plenário e até mesmo imagens do caderno de anotações de Ilana com suas impressões e observações que fez nesses dias de julgamento, sendo assim não há como não se encantar com esses relatos ou não se emocionar quando ao final vemos a justiça sendo feita.

“Por fim, concluí que histórias assim nunca terminam, elas seguem como marcas indeléveis de geração em geração. P.20”.

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Título: Casos de Família: Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni

Autor: Ilana Casoy

Editora: DarkSide

Páginas: 528

Ano de Publicação: 2016

Gênero: Investigação Policial / Reportagem Investigativa / Jornalismo

Avaliação: 1 ESTRELA1 ESTRELA1 ESTRELA1 ESTRELA1 ESTRELA

2 comentários sobre “CASOS DE FAMÍLIA: ARQUIVOS RICHTHOFEN E ARQUIVOS NARDONI – ILANA CASOY (RESENHA)

  1. Adorei a resenha! Adoro a capa desse livro e gostei da sinceridade ❤
    Também tenho um blog literário e adoraria receber sua visita!
    Um beijo! ❤
    (www.gentefazendolivro.wordpress.com)

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